Com a proximidade da eleição presidencial dos Estados Unidos, marcada para 5 de novembro, o mercado financeiro mostra sinais de preferência por um resultado favorável ao republicano Donald Trump. Embora as pesquisas de intenção de voto apontem empate técnico entre Kamala Harris, vice-presidente de Joe Biden, e o ex-presidente Trump, o comportamento dos títulos da dívida pública norte-americana, os chamados “Treasuries”, sugere que Wall Street está antecipando uma vitória de Trump.
Nas últimas semanas, as taxas dos Treasuries aumentaram, refletindo a maior incerteza em torno da sustentabilidade fiscal do governo americano. As taxas dos títulos com vencimento em dois anos subiram de 3,61% para 4,16%, enquanto os títulos de 10 anos passaram de 3,78% para 4,35%. Esse aumento indica que investidores estão pedindo um prêmio maior para emprestar ao governo dos EUA, preocupados com as políticas de Trump, que prometem cortes de impostos e expansão de gastos.
Expectativa de crescimento da dívida pública
Sob a gestão de Trump, o déficit público dos Estados Unidos aumentou em US$ 7,8 trilhões. Já durante a administração Biden, o déficit se elevou em US$ 4,8 trilhões até o momento. Dados do Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO) indicam que, com Trump ou Harris, o déficit poderá chegar a US$ 56,4 trilhões até 2034, um patamar descrito como “insustentável” por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. Esse cenário já levou as agências de classificação de risco Moody’s e Fitch a rebaixarem a nota da dívida americana no ano passado.
O economista Garrett Melson, da Natixis Wealth Management, explica que o mercado espera aumento da dívida pública sob qualquer um dos candidatos, mas acredita que as políticas de redução de impostos propostas por Trump acelerariam o endividamento em uma escala maior.
Políticas fiscais e seus impactos econômicos
Caso eleita, Kamala Harris pretende manter a isenção de impostos para americanos que ganham até US$ 400 mil por ano, o que, segundo estimativas, poderia gerar um impacto de US$ 3 trilhões no orçamento. Além disso, Harris propõe aumentar a taxa de imposto sobre empresas e ganhos de capital para 28% e criar novos tributos sobre a renda dos mais ricos para compensar suas políticas de bem-estar social, como o fortalecimento de programas para crianças e famílias de baixa renda.
Trump, por sua vez, propõe reduzir o imposto corporativo para 15% e eliminar impostos sobre gorjetas e horas extras, o que diminuiria a arrecadação em cerca de US$ 3,8 trilhões. Do lado das despesas, o ex-presidente promete investir mais no Departamento de Defesa e em patrulhamento da fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Analistas do grupo financeiro europeu Julius Baer observam que, embora a agenda de Trump possa aquecer a economia a curto prazo, ela também poderia aumentar a inflação e forçar o Federal Reserve a manter taxas de juros elevadas por mais tempo, aumentando o risco fiscal do país.
Eleições no Congresso e desafios fiscais
Especialistas enfatizam que o novo presidente enfrentará limites para implementar sua agenda fiscal, pois mudanças significativas em arrecadação e orçamento dependem da aprovação do Congresso. Atualmente, os republicanos são favoritos para manter o controle da Câmara dos Representantes, e têm chances de conquistar o Senado, onde apenas um terço dos assentos estará em disputa. Esse controle é especialmente crucial para a agenda de Trump, já que a vice-presidência, ocupada pelo candidato eleito, também preside o Senado.
Apesar da dívida elevada e das advertências sobre a sustentabilidade fiscal, a questão orçamentária não tem sido tema central da campanha, que foca mais em tópicos como imigração e democracia. A posição privilegiada do dólar como moeda de reserva global permite que os EUA financiem sua dívida a custos menores, o que diminui a urgência do tema no debate eleitoral.
Conclusão
Com as taxas dos Treasuries subindo, o mercado financeiro parece estar precificando um cenário de vitória para Trump, apostando em suas políticas de corte de impostos e aumento de gastos em segurança e defesa. Resta, no entanto, saber como o próximo presidente — seja ele Trump ou Harris — lidará com o crescente déficit e com a pressão por controle fiscal. A decisão final dependerá também da configuração do Congresso, que terá papel decisivo nas futuras políticas fiscais dos Estados Unidos.